segunda-feira, 23 de abril de 2012

A nossa ética

Sócrates (469 ou 470–399 a.C.) foi a mais notável figura de sua época e uma das mais extraordinárias de toda a humanidade, em todos os tempos. Tanto que a filosofia se divide em três segmentos diferentes, com base nele: pré-socrática, socrática e pós-socrática. Muitos de seus conceitos permanecem válidos até hoje. Entre as histórias que contam a seu respeito, destaca-se a de um amigo que se dirige a ele, dizendo ter algo a relatar sobre um amigo comum. O sábio então pergunta:

– Você já passou essa informação pelo triplo filtro?

– Não sei sequer o que isso significa. Pode me explicar? –, pede o amigo.

– É muito simples. Antes de levar avante uma informação sobre alguém, passe-a por esses três filtros: você tem certeza de que o que vai dizer é verdade? Caso não seja ou você não tenha certeza, pare aí. Se for verdade, passe-a pelo segundo filtro, o da bondade. O que você vai dizer reveste-se do que é bom? Se não tiver essa característica, não siga adiante. Se tiver, passe para o terceiro filtro, o da utilidade. O que você pretende comunicar será útil para alguma coisa boa? Diga-me, agora, o que você tem a me comunicar.

– Nada, mestre, nada. Minha informação não passou pelos filtros e não convém ser dita!

Prova Quádrupla
Na época contemporânea, em 1932, o rotariano Herbert J. Taylor criou – e foi inserida nos princípios do Rotary International – a chamada Prova Quádrupla de tudo o que pensamos, dizemos ou falamos. Estes são seus filtros: 1 – É a verdade? 2 – É justo para todos os interessados? 3 – Criará boa vontade e melhores amizades? 4 – Será benéfico para todos os interessados?

No início da era cristã, é São Paulo quem recomenda, no capítulo quatro da "Carta aos Filipenses", este filtro: "(...) tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, (...) nisso pensai".

Importa notar que nos três diferentes modelos de ética filosófica o conteúdo, conceitualmente, se apresenta o mesmo, havendo absoluta unanimidade quanto ao valor maior, o primeiro filtro: a verdade!

Se a verdade é tão importante e requisitada, por que as pessoas mentem? Aliás, este é precisamente o título da matéria de capa da edição 562 da revista Época, de 23 de fevereiro de 2009. Tem a ilustrá-la a foto de Paula Oliveira, a brasileira que teria mentido ao alegar ter sido agredida por neonazistas na Suíça e, em consequência, ter sofrido aborto. A reportagem traz outros casos de mentirosos, como Marcelo Nascimento da Rocha, que se fez passar por herdeiro da companhia aérea Gol e acabou escrevendo o livro “Vips – Histórias Reais de Um Mentiroso”. O texto cita também personagens famosos, como Erich Von Stroheim e Bill Clinton.

Entre nós, não poderia ser diferente. Pessoas há que, esquecendo-se de que a mentira, além de ter pernas curtas, é filha do diabo, não se acanham de propalar o que sabem ser mentira deslavada, assim como também se põem a falar daquilo que não conhecem e não tiveram o cuidado de investigar. As consequências podem ser danosas, dependendo do nível de amadurecimento e bom senso das pessoas que recebam a mensagem.

Importância dos filtros
Se forem sensatas, sua primeira providência há de ser passar o que quer que lhe tenha sido transmitido pelos devidos filtros. Entre outros, pelo filtro da análise racional: quando uma informação chega a nós, a inteligência manda analisar rapidamente o que está sendo dito, de quem está sendo dito e – principalmente – por quem está sendo dito. Na maior parte das vezes, basta responder a esse último quesito: se a pessoa que está falando não tem credibilidade, o que quer que seja que ela diga não merece crédito. Em outras palavras, é o que Jesus declara: "Não se colhem figos dos espinheiros, nem uvas dos abrolhos. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca".

Afinal, por que as pessoas mentem?

Por vários motivos, mas por nenhuma razão! Mentem por raiva, medo, brincadeira, inveja, complexo de inferioridade, ódio, amor, despeito, ambição, ânsia de poder, necessidade de aparecer... Mas, essencialmente, mentem por falta de elevação de alma e de libertação espiritual, pois o ensino do Mestre é claro: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".

No mundo da imprensa, todos temos compromisso fechado com a verdade, irmã siamesa e, portanto, inseparável da ética. Ética profissional, de conduta, pessoal, de comunicação, ética de verdade!

*O autor é J. B. Oliveira. Associado fundador do Rotary Club de São Paulo-Sé, SP (D. 4610), é consultor de empresas, advogado, professor, jornalista, escritor e titular da cadeira número 38 da Academia Cristã de Letras. Foto: stock.XCHNG

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